Ex-comandante do BOPE-RJ afirma que só veio ‘entender o crime’ depois que saiu das ruas

Tenente-coronel da Polícia Militar do Rio de Janeiro; comandante do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) entre 2019 e 2021; atirador de elite; atualmente, subsecretário adjunto da Secretaria de Segurança Pública daquele estado. Com 27 anos de vida profissional na PMERJ, Maurílio Nunes (foto) disse que só veio “entender a dinâmica do crime” depois que deixou o trabalho de rua.

A declaração foi dada durante entrevista ao podcast Inteligência Limitada, da qual também participou o atual secretário de segurança do Rio, delegado/PF Victor Santos. Na pauta, as diversas nuances do crime organizado e dominado por facções criminosas cariocas. Em determinado ponto da conversa, o ex-comandante de uma das tropas mais preparadas do Brasil deixou escapar que, apesar de quase três décadas na atividade policial, ele não conseguia enxergar as raízes do problema que enfrentava.

“Em 27 anos de Polícia Militar, eu aprendi que a guerra era bélica e achava que iria resolver todos os problemas com a guerra de trocação de tiros, de enfrentar vagabundo, de ir no Complexo do Alemão, cada vez mais trocando tiro. Só que chega um determinado momento que… ‘tô há quase 30 anos fazendo isso, e não melhorou?’ Eu tenho que ter a capacidade de entender que combater o crime no Rio de Janeiro é muito mais do que a guerra bélica”, declarou o tenente-coronel.

Ele disse que veio mudar de opinião quando ‘deixou a farda e vestiu o paletó’. A nova missão – de subsecretário –, deu a Nunes a possibilidade de visualizar o campo de batalha de um ângulo mais estratégico, compreendo melhor como o crime organizado funciona.

“Quando eu troco minha função e olho de uma maneira sistêmica e estratégica, como o delegado [Victor] vem nos conduzindo, fica claro que a gente precisa pensar mais segurança pública com uma visão sistêmica. Pra mim, tem sido uma experiencia absurda de entender todo esse sistema criminal, e não ter apenas uma visão míope que a guerra fosse resolver tudo isso”, afirmou Maurílio.

Investigação

Na entrevista, o secretário Victor Santos disse que, para combater com eficácia o crime organizado, é preciso investigar as fontes de recursos das organizações criminosas e tirá-las das mãos desses grupos, missão que, segundo o secretário, cabe às polícias investigativas.

“A Polícia Civil tem que ter um foco diferente, ela não pode focar no criminoso, ela tem que focar no ‘negócio’, na ‘empresa’, porque o crime é um ‘negócio’. E a Polícia Civil aprendeu bem isso”, disse Victor, ao informar que a PC do Rio bloqueou R$ 6 bilhões do crime organizado, em operação recente.